MULTIFILMES


MULTIFILMES SOCIEDADE ANÔNIMA
Filmografia: 1952 a 1955

 
A seguir a filmografia completa da Multifilmes, relacionada por ano de produção. Incluem-se também a produção inacabada, as produções independentes, curtas metragens e os documentários.
Entre estes, merece destaque o documentário sobre o rio Araguaia, colorido, dirigido por H.B.Corell, perito em technicolor, que já havia participado de vários filmes em Hollywood.

A Multifilmes tinha seus estúdios em Mairiporã, no estado de São Paulo; seu escritório central foi instalado em São Paulo, na rua Martim Francisco, 303 (depois, mudou-se para os estúdios).

O acervo da Multifilmes encontra-se depositado na Prefeirura da cidade de Mairiporã.

Ao final desta página (depois das fichas),
há 3 matérias jornalísticas sobre a destruição do acervo da Multifilmes

MODELO 19 (Ponte da Esperança) - Relançado com o título O AMANHÃ SERÁ MELHOR - 1952 - Brasil / Mairiporã (SãoPaulo) - 90 minutos - Drama - Preto e branco
Direção: Armando Couto
Companhia produtora: Multifilmes S.A.
Companhia distribuidora: Fama Filmes
Produção: Mário Civelli - Gerente de produção: Marcos Margulies - Assistente de produção: João A.Dohogne - Assistente de direção: Eduardo Tenon - Roteiro: Vão Gogo (pseudônimo de Millôr Femandes) e Mário Civelli - Argumento a partir da novela "Oggi il Cielo é Azurro", de Ugo Chiarelli - Diálogos: Bráulio Pedroso - Fotografia: Jacques Deheizelin - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Assistente de montagem: Hélia Talamo - Música: Francisco Mignone - Dublagem: Lima Duarte dubla Luigi Picchi
Intérpretes: Ilka Soares, Miro Cemi, Luigi Picchi, Waldemar Seyssel (Arrelia), Jaime Barcellos, Alice Miranda, Arnaldo Figueiredo, Carlos Cotrim, José Mauro de Vasconcelos, Armando Couto, Caetano Gerardi, Elísio de Albuquerque, Flávio Torres, Mário Civelli, Raul Santos, Sérgioo Brito e os garotos Heráclito e Francisco
Sinopse: Os altos e baixos na vida de um grupo de imigrantes recém-saidos da Europa do após-guerra, que chegam ao Brasil em busca de um futuro melhor.
Francesa, italiano, alemão, polonês e romeno viajam a bordo de navio com destino ao Brasil, onde sonham reconstruir suas vidas, solapadas pela II Guerra.
Ficam amigos, decidem morar juntos e se ajudarem mutuamente, enquanto procuram emprego e acomodações definitivas.
Modelo 19 narra - com humor e dramaticidade - as dificuldades e oportunidades do novo mundo, os mal-entendidos entre eles, deles com os brasileiros, e os desfechos surpreendentes das histórias dos cinco.
Observações: - Este filme é o primeiro mergulho do nosso cinema na realidade dos imigrantes europeus. Veja o humor e drama das aventuras e desventuras de cinco retirantes da 2ª Guerra. Indispensável para o estudo do ciclo do Cinema Industrial Brasileiro. - Disponível em vídeo - Série Resgate Mário Civelli
Prêmios: Melhor ator (Luigi Picchi), prêmio Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos, Riode Janeiro, 1956; Melhor ator secundário (José Mauro de Vasconcelos), prêmio "Sací", São Paulo, 1956; Melhor ator (Luigi Picchi), prêmio Governador do Estado de São Paulo, São Paulo, 1956.
Vencedor de cinco prêmios no I Festival Internacional de São Paulo - Ganhou 5 Prêmios Governador do Estado de São Paulo - de Melhor: Ator (José Mauro de Vasconcelos), Coadjuvante (Waldemar Seyssel-Arrelia), Diálogo (Millôr Fernandes), Revelação (Luigi Picchi) e Produção (Mário Civelli).
Informações Históricas: Primeiro roteiro de Millôr Fernandes, que assinava como Vão Gôgo.
Este é o primeiro filme de Luigi Picchi, um italiano pintor de cenários que Mario Civelli transformou num galã de grande público.
Waldemar Seyssel, que faz um papel sério, ficaria famoso caracterizando o Palhaço Arrelia.
José Mauro de Vasconcelos queria ser ator e se consagrou como escritor de "Meu pé de laranja lima" e outros livros.
É um dos primeiros filmes de Ilka Soares, uma das mais lindas atrizes do cinema, em todos os tempos.
Modelo 19 mostra trechos de São Paulo que ou mudaram muito ou não existem mais

O HOMEM DOS PAPAGAIOS - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - 95 minutos - Comédia - Preto e branco
Direção: Armando Couto
Companhia produtora: Multifilmes S.A.
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Produção: Mário Civelli - Gerente de produção: João A.Dohogne - Assistente de produção: Máximo Barro - Assistente de direção: Roberto Santos - Roteiro: Glauco Mirko Laurelli - Argumento (sobre conto de Hugo Chiarelli): Procópio Ferreira - Diálogos: Sérgio Britto - Fotografia: Giulio de Lucca - Câmera: Adolfo Paz González - Foco: Honório Marin - Assistente de foco: Walter Cenci - Som: George Montiel - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Assistente de montagem: Hélia Talamo - Música: Guerra Peixe - Continuidade: Ebba Picchi
Intérpretes: Procópio Ferreira (Epaminondas), Ludy Veloso, Hélio Souto, Eva Wilma, Elísio de Albuquerque, Herval Rossano, Hamilta Rodrigues, Gino Talamo, Ítalo Rossi, Waldemar Seysel (Arrelia), José Rubens, Mário Benvenutti, João Alberto, os meninos Heráclito e Francisco
Sinopse: Malandro pobretão consegue emprego como zelador de uma mansão de luxo. Ali, ele se faz de milionário, afogando-se em dívidas ("papagaios").
Epaminondas (Procópio Ferreira) vive perdendo emprego e só de aluguel deve oito meses. Então, ele é convidado para trabalhar como zelador de uma mansão que está desocupada.
Pensando que Epaminondas é milionário, os fornecedores correm lá e oferecem seus produtos e serviços. Epaminondas compra do bom e do melhor e paga tudo com notas promissórias (papagaios).
Quando os papagaios vencem, os credores descobrem que o Doutor Epaminondas não tem um tostão para pagar. Eles ficam morrendo de ódio e no fim... Bom. No fim dá tudo certo para o Epaminondas.
Observações: Série Resgate Mario Civelli - Disponível em vídeo.
Informações Históricas: É o primeiro filme de Eva Wilma interpretando uma personagem central: antes ela só havia feito uma pontinha em cinema.
Sérgio Britto trabalhou em muitos roteiros, mas ganharia projeção nacional como grande diretor de teatro e ator.
Waldemar Seyssel ficaria famoso pouco depois, caracterizando o adorável palhaço Arrelia.
Roberto Santos, que foi o continuista deste filme, iria se consagrar como conceituado diretor de cinema.
Crítica: A comédia de um pobretão que assina um mundo de promissórias e vive igual milionário. No fim, ele deve tanto dinheiro, mas tanto dinheiro que ... dá certo !
Epaminondas (Procópio Ferreira) vive perdendo emprego e só de aluguel deve oito meses. Então, ele é convidado para trabalhar como zelador de uma mansão que está desocupada. Pensando que Epaminondas é milionário, os fornecedores correm lá e oferecem seus produtos e serviços. Epaminondas compra do bom e do melhor e paga tudo com notas promissórias (papagaios). Quando os papagaios vencem, os credores descobrem que o Dr. Epaminondas não tem um tostão para pagar. Eles ficam morrendo de ódio e no fim ... Bom, vale a pena ver o filme !
Prêmios: Melhor atriz secundária (Eva Wilma), prêmio Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos, Rio de Janeiro, 1953; Melhor atriz secundária (Eva Wilma), prêmio Governador do Estado de São Paulo, São Paulo, 1953

FATALIDADE - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - ... minutos - Drama - Preto e branco
Direção, roteiro e argumento: Jacques Maret
Companhia produtora: Multifilmes S.A.
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Produtor: Mário Civelli - Gerente de produção: Mário Sterchezzi - Assistente de produção: Glauco Mirko Laurelli - Assistente de direção: Orlando Vilar - Fotografia: Giulio de Lucca - Câmera: Adolfo Paz González - Foco: Honório Marin e Walter Cenci - Sonografia: Felix Braschera - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Assistente de montagem: Hélia Talamo - Música: Cláudio Santoro e Mário Civelli - Regente: Walter Schultz Porto Alegre - Continuidade: Heitor Contrucci
Intérpretes: Angélika Hauff, Guido Lazzarini, Lysca Ayde, Célia Helena, Jackson de Souza, Altamiro Martins, Aracy Cardoso, Nestório Lips, Caetano Gerardi, David Novach, Gino Talamo, Jacques Maret
Sinopse:
Observações: No elenco, Angelika Hauff, atriz alemã.

UMA VIDA PARA DOIS - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - ... minutos - Drama - Preto e branco
Direção: Armando de Miranda
Companhia produtora: Multifilmes S.A.
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Produção: Mário Civelli - Gerente de produção: Rafael Oliveira - Assistente de direção: Eduardo Tanon - Argumento: Sérgio Britto - Fotografia: Ruy Santos - Câmera: Hélio Silva - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Sonografia: Ercole Braschera - Música: Walter Schultz Porto Alegre
Intérpretes: Orlando Villar, Liana Duval, Luigi Picchi, Jayme Barcellos, Nestório Lips, Valery Martins, Sérgio Britto, Ítalo Rossi, João Silva, Ana Felimonof, Franca Fenati, Rafael Oliveira, Walter Schultz Porto Alegre e a Orquestra Sinfônica Brasileira
Sinopse:

O CRAQUE - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - ... minutos - Drama - Preto e branco
Direção: José Carlos Burle
Companhia produtora: Multifilmes S.A.
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Produção: Mário Civelli - Direção de produção: Rafael de Oliveira - Assistente de direção: Roberto Santos - Argumento: Hélio Thys - Roteiro: Alberto Dines, Saul Lachtermacher e José Carlos Burle - Diálogos: Saul Lachtermacher - Fotografia: Ruy Santos - Câmera: Ronaldo e Hélio Silva - Cenografia: Teresa Nicolau - Montagem: Gino Talamo - Assistente de montagem: Carla Civelli - Sonografia: George Montiel - Música: Guerra Peixe
Intérpretes: Carlos Alberto, Eva Wilma, Herval Rossano, Liana Duval, José Carlos Burle, Elísio Albuquerque, Lima Neto, Valéry Martins, Américo Taricano, Blota Júnior, Inezita Barroso, Noêmia Fredo, Amaro César, Antônio Amaral, Cavagnole Neto, Jota Rodrigues, Nestório Lips, Paulo Ruschel, Ibáñez Filho e os Jogadores do E.C.Corinthians Paulista (Baltazar, Carbone, Cláudio, Gilmar, Índio, Luizinho, Olavo e Roberto).
Sinopse:
Observações: - Primeiro filme brasileiro com a temática do futebol.

CHAMAS NO CAFEZAL - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - 70 minutos - Drama - Preto e branco
Direção: José Carlos Burle
Companhia produtora: Multifilmes S.A.
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Produção: Mário Civelli - Gerente de produção: Rafael de Oliveira - Assistente de produção: Eduardo Tanon - Assistente de direção: Roberto Santos - Argumento: Antônio José, Marcos Marguliés e Mário Civelli - Roteiro: José Carlos Burle, Antônio José e Marcos Merguliés - Fotografia: Giulio de Lucca - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Sonografia: Felix Braschera - Música: Cláudio Santoro - Direção musical: Guerra Peixe
Intérpretes:
Angélika Hauff, Guido Lazzarini, Áurea Cardoso, Jane Batista, Célia Helena, José Carlos Burle, Luigi Picchi, Ana Filimonof, Simone Moura, Eduardo Tanon, Rafael de Oliveira, João Silva
Sinopse: História de amor e poder numa fazenda do interior de São Paulo. O enredo focaliza o conflito entre um pequeno agricultor e uma poderosa indústria, que tem interesse na sua propriedade.
Observações: - Apresentado no 1º Festival Internacional de Cinema, no IV Centenário de São Paulo, prêmio de melhor fotografia (Giulio de Lucca), São Paulo,1954.
Prêmios: Melhor edição (Gino Talamo), prêmio "Sací", São Paulo, 1954; Melhor edição (Gino Talamo), prêmio Governador do Estado de São Paulo, São Paulo, 1954.

A SOGRA - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - ... minutos - Comédia - Preto e branco
Direção: Armando Couto
Companhia produtora: Multifilmes S.A.
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Produção: Mário Civelli - Gerente de produção: Eduardo Tenon - Assistente de direção: Sérgio Britto - Argumento: Alberto Dines - Roteiro: Renato Tignoni - Fotografia: Ruy Santos - Sonografia: Felix Braschera - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Música: Guerra Peixe - Regente: Cláudio Santoro - Continuidade: Glauco M.Laureli
Intérpretes: Procópio Ferreira (Arquimedes), Maria Vidal (sogra), Ludy Veloso, Waldemar Seyssel (Arrelia), Eva Wilma, Elísio Albuquerque, Riva Nimitz, Herval Rossano, Sérgio Britto, Jayme Barcellos, Armando Couto, Caetano Gerardi, Ítalo Rossi, Sérgio de Oliveira, Alberto Dines, Eduardo Tanon
Sinopse: Arquimedes, chefe de uma estação ferroviária, recebe a inesperada visita da sogra rabujenta. Logo descobre que, na verdade, ela veio morar com a família, para seu desespero.
Observações: Rodado totalmente em logradouros públicos de Mairiporã, com cenas no interior da antiga igreja matriz, coreto da praça das Bandeiras, interiores do Cine Maria Luíza e entrada da cidade.
Primeiro filme a abordar o tema jogo do bicho. Em 1952 houve outro filme com o mesmo tema: "Amei um bicheiro" (Atlântida), de Jorge Ileli, co-direção de Paulo Wanderley.

DESTINO EM APUROS - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - ... minutos - Comédia - Preto e branco, com cenas em cores
Direção: Ernesto Remani
Companhia produtora: Multifilmes
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Produção e argumento: Mário Civelli - Gerente de produção: Saul Lachtermacher e Rafael Oliveira - Assistente de produção: Eduardo Tanon e Glauco Mirko Laurelli - Assistente de direção: Cláudio Barsotti - Roteiro (baseado na história de Sérgio Britto): Jacques Maret - Diálogos: José Maria de Vasconcelos - Fotografia (Anscocolor): H.B.Corell - Assistente de fotografia: Honório Marin - Câmera: Walter Cenci - Assistente de câmera: Adolfo Paz González - Sonografia: George Montiel - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Assistente de montagem: Hélia Talamo - Coreografia: Waslaw Weltcheck - Música: Francisco Mignone - Continuidade: Ebba Picchi - Laboratório: Houston Color Films (EUA) - Gravações: Emilinha Borba, Jorge Goulart e Nuno Roland.
Intérpretes: Beatriz Consuelo, Hélio Souto, Paulo Autran, Armando Couto, Waldemar Seysel (Arrelia), Jayme Barcellos, Orlando Villar, Lídia Vani, Paulo Goulart, Elísio Albuquerque, Aracy Cardoso, Antônio Fragoso, Benedito Corsi, Ludy Veloso, Graça Melo, Ítalo Rossi, João Alberto, Luiz Tito, Sérgio Britto, Tito Lívio Baccarini, Sílvio Michelany, Douglas Michelany, Ibáñez Filho, Inezita Barroso, Luiz Bonfá, Paulo Ruschel, Ivone Nelson, Luiz Telles
Sinopse:
Observações: - 1º filme com cenas coloridas, o filme não era totalmente colorido. O filme seria em cores, mas não havia laboratórios com condições de revelação e copiagem. O processo escolhido foi o ANSCOCOLOR, dominado pelo técnico norte-americano H.B.Corell.
Prêmios: Melhor fotografia em Anscolor (H.B.Corell), prêmio "Sací", São Paulo, 1953; Menção especial, prêmio "O Índio", revista Jornal do Cinema, Rio de Janeiro, 1953.

O AMERICANO (Inacabado) - 1953 - Brasil / Mairiporã (São Paulo) - Estados Unidos / Hollywood - 85 minutos - Drama - Colorido
Direção: Bud Boetticher
Companhia produtora: Multifilmes (SP) / Columbia Pictures (EUA)
Companhia distribuidora: Columbia Pictures
Produção: Robert Stillmann Productions de Hollywood - Argumento: John Waterhouse - Fotografia (Tecnicolor): Jack Mills - Cenografia: Martim Gonçalves - Montagem: Edith Haffenrichter - Sonografia: Michael Stoll - Música: Guerra Peixe
Intérpretes estrangeiros:
Glenn Ford, Cesar Romero, Arthur Kennedy, Sarita Montiel, Eleonor Parker
Intérpretes brasileiros:
Tônia Carrero, Maria Femanda, Luigi Picchi, Mário Sérgio, e outros.
Sinopse: Um vaqueiro viaja para o Amazonas, no Brasil, a fim de entregar uma boiada de valiosos touros Brahma, porém descobre que o fazendeiro, a quem deveria entregar os animais, fora assassinado misteriosamente. Acaba se fixando no local e enfrenta uma quadrilha de bandidos brasileiros.
Observações: As filmagens foram logo interrompidas. O diretor criticou os equipamentos à disposição, achando-os pouco qualificados.

A OUTRA FACE DO HOMEM - 1954 - Brasil / Rio de Janeiro e Mairiporã (São Paulo) - ... minutos -Drama - Preto e branco
Direção: J. B. Tanko
Companhia produtora: Atlântida (RJ) e Multifilmes S.A.(SP)
Companhia distribuidora: UCB-União Cinematográfica Brasileira
Gerente de produção: Guido Martinelli - Roteiro: Glauco Mirko Laurelli e J. B. Tanko - Argumento: José Loponte - Fotografia: Giulio de Lucca - Câmera: Eduardo Tanon - Sonografia: Felix Braschera - Cenografia: Franco Ceni - Montagem: Gino Talamo - Música: Guerra Peixe
Intérpretes: Renato Restier, Eliana Macedo, Carlos Tovar, Inalda de Carvalho, John Herbert, Ludy Veloso, Sady Cabral, Jackson de Souza, Ana Gutenberg, Cavagnole Neto, José Herculano, Labiby Mady, Wilma Chandler, Fernando Rubiam, Wilmar Prado, Edilene Cavalcanti
Sinopse:
Observações: - Estréia no cinema de Inalda de Carvalho, que havia vencido o concurso Miss Cinelândia em 1953, cujo prêmio era um contrato com a Atlântida Cinematográfica.
Prêmios: Melhor filme, diretor, atriz (Eliana Macedo), prêmio "Sací", São Paulo, 1954; Melhor diretor e atriz (Eliana Macedo), prêmio Governador do Estado de São Paulo, São Paulo, 1954; Melhor ator (Renato Restier) e fotografia (Giulio de Lucca), 2º Festival de Cinema do Distrito Federal, Rio de Janeiro.

A ESTRADA (Ronda da morte) - 1955 - Brasil / São Paulo - … minutos - Drama - Preto e branco
Direção,argumento e roteiro: Oswaldo Sampaio
Companhia produtora: Mayra Filmes
Companhia distribuidora: Columbia Pictures do Brasil
Apresentação: Republic Pictures - Produtor: Pedro Moacyr Peixoto - Gerente de produção: Gino Talamo - Assistente de direção: Lourenço H.Ferreira - Fotografia: Nigel C.Hucke - Câmera: Bob Hucke - Assistente de câmera: Ronaldo Taylor - Cenografia: João Maria dos Santos - Figurinos: Pepe Pastor - Montagem: Osvaldo Haffenrichter - Assistente de montagem: Mauro Alice - Sonografia: Roberto Cavalier - Assistente de som: Joe Morris - Música: Cláudio Santoro - Canções: Adoniran Barbosa - Continuidade: Lúcio Braun - Estúdios: Multifilmes S.A.
Intérpretes: Miro Cerni, Agnes Fontoura, Pagano Sobrinho, Vera Sampaio, Milton Morais, Paulo Geraldo, Henricão, José Policena, Carlos Tovar, Salvador Daki, Eugênio Kusnet, Adoniran Barbosa, Ritinha Seabra, Esther Góes, Alexandre Garcês, Antônio Herculano, David Novach, Ermínio Spalla, João Batista Giotto, José Herculano, Luiz Calderaro, Luiz Francunha, Ricardo Campos, William Founeaut
Sinopse:
Prêmios: Melhor ator secundário (Pagano Sobrinho), prêmio Associação Brasileira de Cronistas Cinematográficos, Rio de Janeiro, 1956; Melhor filme, diretor, fotografia (Bob Hucke) e compositor (Cláudio Santoro), prêmio "Sací", São Paulo, 1956; Melhor ator secundário (Pagano Sobrinho) e editor (Mauro Alice e Lúcio Braun), prêmio Governador do Estado de São Paulo, São Paulo, 1956.

A CARROCINHA - 1955 - Brasil / São Paulo - 100 minutos - Comédia - Preto e branco
Direção: Agostinho Martins Pereira
Companhia produtora: PJP Filmes / Luso Filmes
Companhia distribuidora: Fama Filmes
Produção: Jaime Prades -Gerente de produção: René Zmekhol - Assistente de direção: Galileu Garcia - Argumento: Walter Georg Durst - Roteiro e adaptação cinematográfica (baseado na história "Quase a guerra de Tróia"): Walter George Durst, Agostinho Martins Pereira, Galileu Garcia e Jacques Deheinzelin - Fotografia: Jacques Deheinzelin - Câmera: Honório Marin - Assistente de câmera: Valentim Cruz - Adestração de cães: Jordano Martinelli - Letreiros: Oscar - Montagem: Lúcio Braun - Som: Giovanni Zalunardo - Cenografia: Franco Cenni - Música: Enrico Simonetti - Continuidade: Zélia Ianello
Canções: "Céu sem luar" (Enrico Simonetti e Randal Juliano) e "Cai, sereno" (Elpídio dos Santos e Conde), com Mazzaropi
Intérpretes: Mazzaropi (Jacinto), Dóris Monteiro (Ermelinda), Modesto de Souza (Juca Miranda), Adoniran Barbosa (Salvador), Kleber Macedo (Adalgisa), Luíza de Oliveira (Dona Hortênsia), Gilberto Chagas (Alinor), João Silva (Lisboa), Salles de Alencar (Abel Fragoso), Nicolau Sala (Padre Simão), Aidar Mar (Clotilde), Reinaldo Martini (Paulo), José Nuzzo (Tatu), Paulo Saffioti (Teotônio), Diná Machado (Josefa), José Gomes (Tio José), Nieta Junqueira, Galileu Garcia, Jordano Martinelli, Bento Souza, Luiz Francunha, o cão Duque
Sinopse: O prefeito da cidade quer se livrar da cachorrinha de sua esposa. Jacinto, encarregado de fazer o serviço da "carrocinha", se indispõe contra todos da cidade; acaba se apaixonado por uma linda caipira que adora cachorros.
Observações: - O produtor Jaime Prades alugou os estúdios da Multifilmes S.A. para realizar este filme. Disponível em vídeo

 

O Estado de São Paulo, 02.03.2002
INFELIZMENTE...
Acervo da Multifilmes vira pó por falta de patrocínio
O estado desolador dos estúdios de Mairiporã em nada lembra sua era dourada, nos anos 50, quando dava emprego a 200 pessoas, chegando a produzir nove filmes nos dois primeiros anos de funcionamento

Ubiratan Brasil

A Multifilmes surgiu, em 1952, com inovações que as outras companhias cinematográficas na época não dispunham, como uma fábrica própria de refletores, a primeira do Brasil. Os estúdios foram construídos por Mario Civelli em Mairiporã, cidade situada a 38 km de São Paulo. "A escolha foi estratégica, pois, na época, estava sendo construída a rodovia Fernão Dias", conta Pedro Tomás Pereira, pesquisador da história da cidade. "O problema é que as obras atrasaram e a estrada só foi inaugurada em 1960, seis anos depois do previsto e quando os estúdios já não funcionavam mais."

Na imensa área de 52 mil metros quadrados onde existiu a Multifilmes e por onde passaram nomes consagrados (Procópio Ferreira, Eva Wilma, Paulo Autran, Roberto Santos, Luíz Sérgio Person, Anselmo Duarte e outros), existe hoje um terreno abandonado e tomado pelo mato. Dos estúdios, sobraram apenas quatro galpões. "Depois que a companhia fechou, em 1958, a área foi ocupada por uma fábrica de instrumentos musicais, a Weril, que depois se mudou para Franco da Rocha", conta Pereira.

O estado desolador dos estúdios em nada lembra seus momentos dourados, no início da década de 50. Na época, cerca de 200 pessoas trabalhavam na companhia que, em apenas dois anos, chegou a produzir nove filmes. A começar por Modelo 19, de 1952, estrelado por Ilka Soares e com nomes curiosos como o escritor José Mauro de Vasconcelos e Waldemar Seyseell, que depois celebrizou-se como o palhaço Arrelia.

Trata-se da história de cinco imigrantes que se conhecem a bordo de um navio a caminho do Brasil, onde recomeçam suas vidas após a guerra. "Além de marcar a estréia como roteirista de um certo Vão Gogo (na verdade, o pseudônimo de Millôr Fernandes), o filme é interessante também por mostrar imagens históricas, como o Vale do Anhangabaú completamente vazio", conta Patrícia Civelli, filha de Mário e atual guardiã do acervo que resistiu à degradação.

Futebol - Em sua busca por patrocinío para conservar o material, Patrícia conta ainda com um apoio reduzido - como o da Funarte, na recuperação de outro filme, O Craque, de 1953, um dos mais curiosos produzidos pela Multifilmes. É a história de um jogador de futebol apelidado de Joelho de Vidro (vivido por Carlos Alberto) que, além de tentar firmar-se como titular no time do Corinthians, luta pelo amor de uma garota (a iniciante Eva Wilma), que divide sua atenção com um rapaz rico (Herval Rossano).

Para dar mais veracidade à trama, o filme tem cenas rodadas no estádio do Pacaembu que, na época, ainda contava com a Concha Acústica onde hoje existe o Tobogã, e no Parque São Jorge, a sede do Corinthians. Os principais jogadores do time, aliás, como Gilmar, Cláudio, Luizinho, Baltazar e Carbone, participam em rápidas cenas. O filme apresenta também momentos raros, como Eva Wilma e Carlos Alberto passeando no Rio Tietê. "Foi nesta obra também que aconteceu o primeiro close de um beijo no cinema brasileiro", informa Patrícia.

A única cópia remanescente de O Craque estava virando pó. Com o auxílio da Funarte, Patrícia Civelli conseguiu salvá-la. O problema estava na banda sonora, completamente perdida. "Eu até consultei o Alberto Dines, autor do roteiro, na tentativa de recompor os diálogos." A solução surgiu a partir de uma situação inusitada - no ano passado, Patrícia recebeu o telefonema de uma pessoa que garantia ter uma cópia em VHS do filme. "Era uma cópia pirata feita a partir de um negativo que foi conseguido no laboratório, na época do filme", conta ela que, apesar da maneira ilícita como foi feita a cópia em vídeo, só pode agradecer. "Graças à tecnologia atual e a essa fita, poderemos recompor os diálogos do filme."

Outra obra cuja existência resume-se a apenas uma cópia é O Destino em Apuros, de 1953. Trata-se do primeiro filme brasileiro em cores e conta a história de dois jovens, interpretados por Paulo Autran e um quase adolescente Hélio Souto, disputando o amor da bela Beatriz Consuelo. A existência dessa cópia surpreendeu Autran, que julgava o filme perdido. "Ele acreditava que nunca mais assistiria a um trabalho tão antigo", comenta Patrícia.

Zoológico - Ao mesmo tempo em que produzia filmes, Mario Civelli recebia a visita de astros estrangeiros. Acompanhou, por exemplo, as atrizes Lea Massari e Giulietta Masina (mulher de Fellini) e o diretor Mario Monicelli em um curioso passeio: a inauguração do zoológico paulistano. Ciceroneou também Glenn Ford, que veio a São Paulo rodar O Americano, um estranho faroeste ambientado na cidade. Como o trama depreciava a capital, porém, Civelli desistiu de fornecer apoio. Apesar de o filme permanecer inédito, Ford sempre o manteve em seu currículo.

Civelli era um empresário obstinado. Bonachão, sua figura lembrava a de Orson Welles, especialmente pela disposição em investir em seus projetos. A tentativa de ocupar o mercado com produções nacionais, porém, trombou com a política de distribuição, dominada pelas companhias estrangeiras que boicotavam as fitas brasileiras. Com isso, o prejuízo foi crescente até se tornar insustentável, obrigando-o a fechar a Multifilmes.

Antes, lá realizou produções derradeiras, como O Grande Desconhecido e Rastros na Selva, sobre desbravamento de florestas. As fitas atraíram a simpatia do marechal Rondon, que consentiu a Civelli filmar sua biografia. O cineasta dedicou anos em pesquisas, mas não conseguiu realizá-la até sua morte, em 1993, aos 70 anos. O projeto passou para Roberto Faria, que se interessou em recriar o encontro de Rondon com o ex-presidente americano Theodore Roosevelt, no coração das selvas brasileiras.

"Vou catalogar todo o material dessa pesquisa", conta Patrícia, que há três anos vasculha os papéis espalhados em seu apartamento, fazendo novas descobertas a cada mexida. A partir da catalogação, pretende realizar documentários sobre a Multifilmes e a Maristela. Incansável, seu lema, adotado de um museu francês, é "Um futuro para o nosso passado".

JORNAL DA TARDE, São Paulo, 04.02.2001 / Revista DOMINGO
Nossa Hollywood ficava aqui
Em 1951 Mario Civelli construiu em Mairiporã os estúdios da Multifilmes, que revolucionou o cinema nacional. A empresa também mudou, para sempre, a história da cidade.

Mônica Xavier, especial para o JT

Luzes, câmera, ação! Nesse clima de Hollywood viveram os moradores da cidade de Mairiporã, cidade próxima a São Paulo, na década de 50. O cinema nacional se instalou ali com todo o seu glamour e mudou a vida pacata das pessoas. A invasão de diretores, cinegrafistas, artistas famosos e toda a parafernália cinematográfica mexeu também com o nome da cidade, que até 1948 era chamada Juqueri.

O sanatório do Juqueri, construído em 1888 pelo doutor Franco da Rocha, deu à cidade o epíteto de "terra dos loucos". "Quando os moradores iam a São Paulo fazer compras, não podiam dizer que moravam em Juqueri, pois perdiam o crédito", relembra Pedro Thomás Pereira, nascido e criado ali.

Toda a população já estava contente com a mudança de nome de Juqueri para Mairiporã (e a mudança do famoso instituto psiquiátrico para o município vizinho de Franco da Rocha), quando o cineasta Mario Civelli resolveu construir ali a Multifilmes.

Civelli chegou ao Brasil em 1946 para levantar dados sobre uma co-produção Brasil-Itália sobre a vida de Anita Garibaldi. O projeto não deu certo porque o governador de São Paulo considerou que a heroína não seria um bom exemplo para as mulheres daquele tempo. Anita era rebelde demais. Em 1947, Civelli trabalhou no primeiro filme brasileiro no qual se usou a técnica de dublagem, "Luar do Sertão". Em 50, como produtor da Companhia Maristela de Filmes, fez "Meu Destino é Pecar", primeira adaptação de texto de Nelson Rodrigues para o cinema. Não parou mais e fixou-se no Brasil.

Civelli queria um espaço amplo dedicado exclusivamente à produção de filmes. Depois de conhecer o industrial Tony Assumpção, um apaixonado pelo cinema, conseguiu o capital para realizar o sonho. A Multifilmes foi construída numa área de 52 mil metros quadrados próxima à rodovia Fernão Dias, que na época estava em construção. As obras dos estúdios começaram e foram concluídas em 1951 e o primeiro filme ficou pronto no ano seguinte.

O ritmo das produções foi intenso para os poucos recursos da época. Ao todo, nove filmes foram produzidos nos estúdios de Mairiporã, entre eles "O Homem dos Papagaios", com Procópio Ferreira, Eva Wilma e Herval Rossano; "Fatalidade", com Célia Helena e Guido Lazarini, e o primeiro filme brasileiro colorido, "Destino em Apuros", com Paulo Autran, Hélio Souto, Beatriz Consuelo e números musicais de Inezita Barroso.

O auge da Multifilmes foi nos anos de 53 e 54 e a decadência deu os primeiros sinais em 55. Mario Civelli se afastou da direção e os estúdios passaram a ser alugados por produtoras independentes. Alguns filmes foram abandonados pela metade por falta de verba. Até que no final dos anos 50 a Multifilmes foi vendida para a Werill, indústria de instrumentos musicais, que funcionou até os anos 80.

A sétima arte mudou a vida dos moradores de Mairiporã em vários sentidos. Para começar, deixaram de vir da "cidade dos loucos" para serem conhecidos como moradores da "cidade do cinema". Alguns artistas compraram lotes e sítios na cidade, o que desenvolveu e a valorizou a região rapidamente.

A morte do criador - Só no ano de 1992 Mario Civelli voltou a Mairiporã e se emocionou ao ver todos os estúdios abandonados e estragados pelo tempo. Ele tentou comprá-los novamente, mas faleceu em 93, durante as negociações. Com ele, terminou uma fase de Mairiporã que os filmes eternizaram. "A cidade foi descaracterizada pelo tempo, mas as imagens gravadas mostram uma Mairiporã autêntica. Foram usados diversos pontos da cidade para locações externas. Muitos moradores tiveram participação nos filmes, principalmente as crianças", diz Pedro Thomaz.

Teresinha de Jesus Wisniewski, 54 anos, vice-prefeita, se recorda com saudade daquele tempo. Ela conta que participou de um filme com Mazzaroppi e lembra perfeitamente do jeito de Mario Civelli. Segundo ela, muito bonito, ele chegava dirigindo um jipe, instalava um telão na praça e exibia os filmes. "Aquilo pra nós era um fenômeno".

Quem também se encanta ao lembrar de Mario Civelli é a dona de casa Clarinda Rodrigues de Souza, 62 anos. "Ele era fantástico, gentil mas muito severo com relação ao trabalho", garante. Ela começou a trabalhar na Multifilmes aos 13 anos, como figurinista, e logo foi convidada para fazer pequenas participações em filmes. Clarinda faz pontas em "Fatalidade", "A sogra" e "Destino em apuros". Por muito pouco não se transformou numa atriz de sucesso. Foi convidada por produtores e diretores para estudar arte dramática no Rio de Janeiro, mas seu pai não deixou.

"Meu sonho era ser atriz, eu poderia ter me transformado numa pessoa famosa, mas o destino não quis. Depois que a atriz Beatriz Consuelo gravava suas cenas no filme 'Destino em apuros' eu pegava suas sapatilhas e ia dançar, escondida, no cenário. Era um sonho", suspira.

A ex-figurante conta que pelas pequenas participações nos filmes e por usar calça comprida, ficou difamada na cidade: "Imagine se meu pai ia permitir que eu fosse para o Rio", diz.

Os moradores mais antigos de Mairiporã têm boas lembranças daquela época mágica do cinema nacional. Júlio Alves da Silva, 70 anos, hoje aposentado, foi motorista e auxiliar de iluminação na Multifilmes e fica com os olhos cheios de lágrimas ao lembrar que um dia foi o escolhido para conduzir estrelas como Eva Wilma. "Tenho saudade de tudo. Lá não havia rivalidade nem arrogância, todos se tratavam com igualdade", lembra.

A herdeira - A única herdeira de Mario Civelli, Patrícia Civelli, não mede esforços para tocar o projeto "Resgate Multifilmes", que tenta recuperar 13 filmes em estado de deterioração e restaurar 4070 fotos da época de seu pai. "Nesse acervo tenho um grande patrimônio do cinema nacional, que está prestes a desaparecer: o primeiro filme dublado, o primeiro filme em cores, os primeiros rodados em selva virgem, os primeiros com prêmios internacionais ganhos pelo Brasil e os primeiros documentários em longa-metragem. Além de vários serem o marco inicial das carreiras de atores e diretores que hoje dão vida às indústrias de tevê, teatro e cinema", explica Patrícia.

A atriz Eva Wilma, que em 1953 assinou seu primeiro contrato de cinema, por dois anos, com a Multifilmes, diz que não é saudosista, mas sente "muito orgulho de ter trabalhado naquela época com pessoas tão importantes, como Procópio Ferreira". Ela participou dos filmes "O homem dos papagaios", "O craque" e "A sogra".

Mairiporã quer erguer um museu
O prefeito Jair Oliveira busca apoio para criar o Museu Nacional do Cinema nos galpões onde, há 40 anos, funcionava a Multifilmes

O prefeito de Mairiporã, Jair Oliveira, tem interesse em unir forças com a iniciativa privada e os governos federal e estadual para criar o Museu Nacional do Cinema nos galpões onde funcionava a Multifilmes. Apesar da consciência do valor cultural e dos benefícios que a implantação desse museu trará à cidade, a prefeitura alega ter herdado uma dívida de R$19 milhões da antiga administração e que são muitos os problemas sociais do município.

"Fica difícil priorizar verbas para um projeto cultural que demanda altas cifras, porém tenho consciência de que isso poderia alavancar não só o desenvolvimento turístico, como também o nome da cidade nacional e internacionalmente", explica.
A atriz Eva Wilma acredita ser um crime cultural se ninguém se mexer para conservar esse patrimônio. "Do jeito que estão esses filmes, e se continuarem assim, será o mesmo que jogar fora um patrimônio cultural", diz.

O prefeito de Mairiporã acredita que os empresários ficarão sensibilizados com essa proposta cultural, mas afirma ser impossível estipular uma data para o início desse projeto. Segundo ele, ainda está em fase embrionária e diz que vai se empenhar para tirar a idéia do papel e transformá-la em realidade.

Além dos filmes, existem vários objetos que foram utilizados naquela época e preservados pelo povo da cidade. Em 1990 o memorialista e "contador de causos", Pedro Thomaz Pereira, 54 anos, dava aulas de português na escola da prefeitura e resolveu criar uma brincadeira com os alunos que levou o nome de "Projeto História Viva". A idéia era que todos os alunos pudessem revirar o baú da vovó trazendo fotos, documentos e objetos sobre a cidade de Mairiporã, principalmente sobre o cinema dos anos 50. "Foi uma grande surpresa, toda a cidade se envolveu no trabalho e conseguimos recuperar a história da cidade de uma forma divertida. Sem dúvida, as lembranças do cinema fazem parte da memória mais marcante para quem vive em Mairiporã".

JORNAL DO BRASIL, 07.11.1999 / Caderno B
Pioneirismo que vira pó
Acervo da Multifilmes, histórica produtora do italiano Mario Civelli, está apodrecendo em SP

Marcelo Janot

Do primeiro filme colorido brasileiro, Destino em apuros, estrelado por Paulo Autran, só resta um trailer e algumas fotos. Imagens raras do início das carreiras de Eva Wilma, Ilka Soares, Herval Rossano, Ítalo Rossi e tantos outros também correm o risco de virar pó. Oitenta por cento do valioso acervo da Multifilmes, companhia fundada pelo produtor e cineasta italiano Mario Civelli em Mairiporã (SP) na década de 50, está se deteriorando nos arquivos da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. A recuperação de cada um desses filmes custa, em média, R$ 50 mil reais, verba que a publicitária Patricia Civelli, filha de Mario, vem tentando obter há dois anos, na iniciativa privada, através da Lei Rouanet.

Só que Patricia ainda não conseguiu um tostão, e enquanto isso ela vem recebendo relatórios aterrorizantes da Cinemateca Brasileira, que não possui verba própria para restauração. "Eles me mandam faxes alertando sobre o estado das cópias. Cada dia que passa elas vão se deteriorando ainda mais", lamenta a herdeira do acervo. Em estado crítico estão filmes como O craque, de 1953, o primeiro longa de ficção sobre futebol no país, estrelado por Eva Wilma e Carlos Alberto e com participação dos jogadores do Corinthians (incluindo o goleiro campeão do mundo, Gilmar). O roteiro é de Alberto Dines e a música, do maestro Guerra Peixe. "A cópia está podre. Precisa ser restaurada com urgência, quadro a quadro", diz Patrícia.

Na mesma situação encontra-se O homem dos papagaios, realizado também em 1953, o primeiro papel de destaque da carreira de Eva Wilma, que vinha de uma ponta em Uma pulga na balança, produzido pela Vera Cruz. O elenco tinha ainda Procópio Ferreira e Hélio Souto, e quem despontava como galã era um jovem aventureiro de vinte e poucos anos chamado Herval Rossano. "Em 1951 eu tinha ido fazer teste para o tal filme colorido que iria ser rodado no interior de São Paulo, mas o diretor de fotografia, um americano chamado H.B. Korrel, dizia que eu tinha os olhos muito fundos. E o maquiador implicou com meu nariz", lembra Herval. O faro de Mario Civelli, no entanto, falou mais alto. "Ele gostou de mim e disse para eu voltar dois anos depois. Peguei uma grana emprestada para o ônibus com meu amigo Antônio Olinto e fui. O Civelli me ofereceu 2,5 mil cruzeiros para me contratar. Não tinha um centavo nem pra comer, mas, com ar de sério, fiz uma contraproposta de 5 mil. Ele acabou topando", diverte-se Herval, hoje diretor da Rede Globo. Civelli já havia descoberto no primeiro filme da companhia, Modelo 19, o galã Luigi Picchi, um imigrante italiano que havia estudado teatro em Florença e trabalhava como pintor de paredes.

O homem dos papagaios, Modelo 19 e outras relíquias da Multifilmes têm sido exibidos esporadicamente no Canal Brasil, mas Patricia ressalta a importância da preservação do acervo em película. "É a memória cultural do país que está em jogo. É inacreditável o descaso por parte do governo com a preservação de nossa história. Se essas cópias não forem restauradas logo, nem a telecinagem será possível".

Por preservação da memória, entenda-se também as imagens das florestas brasileiras registradas por Mario Civelli nos documentários O grande desconhecido e Rastros na selva, rodados em 1956 e 1958, depois que a Multifilmes fechou as portas. Foi a primeira vez que uma equipe de longa-metragem profissional percorreu as matas virgens de Goiás, Mato Grosso, Bahia e Alagoas, mostrando costumes e rituais dos nossos índios e documentando povoados que já não existem mais. O grande desconhecido acabou premiado como melhor documentário no tradicional Festival Internacional de Karlovy Wari, na Tchecoslováquia. Rastros na selva, por sua vez, registrou uma expedição que percorreu o Brasil para capturar os primeiros animais que iriam para o zoológico de São Paulo, cuja inauguração contou com a presença de ilustres amigos italianos de Civelli, como a atriz Giulietta Massina e o cineasta Mario Monicelli.

O trabalho de Civelli na selva despertou o interesse do Marechal Rondon. A partir dali nasceu uma sólida amizade e, após a morte de Rondon, em 1958, Civelli dedicou três décadas a pesquisar e reunir material sobre o desbravador. Parte desse acervo é a base para um longa que será dirigido por Roberto farias (leia ao lado).
As aventuras de Civelli estão captadas também em mais de 4 mil fotografias, que Patricia pretende restaurar junto com os filmes. Ela sonha ainda em produzir um documentário para a TV sobre a Multifilmes e a Maristela, as duas companhias fundadas pelo pai.

Marechal Rondon do cinema - A relação aventureira com o cinema sempre marcou a vida de Mario Civelli. Filho de um generalíssimo do estado-maior de Mussolini, ele era contrário ao fascismo, e deixou a Itália disfarçado de padre para integrar a equipe da força americana que produzia documentários de guerra para os aliados. Depois que a paz foi selada, voltou ao seu país -onde já havia trabalhado com as promessas Federico Fellini, Mario Monicceli e Luchino Visconti.

Desembarcou no Brasil em 1946, contratado pelo produtor Dino de Laurentis para pesquisar locações para um filme sobre Anita Garibaldi que seria rodado no Brasil. O filme não foi adiante, mas o país encantou Civelli, que resolveu ficar.
Seguindo os passos do conterrâneo Franco Zampari, fundador da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, Mario Civelli acreditou na possibilidade de se fazer cinema comercial no Brasil. Depois de co-dirigir com Tito Batini o longa Luar do sertão, fundou em agosto de 1950 a Maristela Filmes, de onde saiu dois anos depois para criar a Multifilmes. Estabeleceu-se na cidade paulista de Mairiporã, construiu um estúdio que ocupou uma área de 5 mil metros quadrados e chegou a ter 200 empregados. Em apenas dois anos, chegou a produzir nove filmes, que não trouxeram o retorno esperado. "A companhia sofreu com a política de distribuição, que boicotava os filmes nacionais. Ficava difícil manter um staff daquele tamanho", avalia Patrícia, filha de Civelli com sua única esposa, a crítica de cinema Pola Vartuk. Bonachão, lembrava Orson Welles pelo tipo físico e o espírito empreendedor. "Civelli era um aventureiro. Gostava de ganhar dinheiro, mas tinha uma boa dose de romantismo", lembra a atriz Ilka Soares, que chegou a morar em sua casa durante as filmagens de Modelo 19.

"Ele era um grande negociante", ressalta Herval Rosssano. Todo o dinheiro que ganhava, no entanto, era reinvestido em seus projetos pessoais. Como distribuidor, apostou nos primeiros filmes do Cinema Novo, como Barravento, de Glauber Rocha, e Cidade ameaçada, de Roberto Faria. O grande projeto de sua vida, no entanto, não chegou a sair do papel: uma minissérie de TV e um longa-metragem biográfico sobre o Marechal Rondon, de quem reuniu um acervo gigantesco. Roberto Faria se interessou por um dos episódios pesquisados por Civelli - a visita do ex-presidente americano Theodore Roosevelt ao Brasil e seu encontro com Rondon - e pretende fazer um longa-metragem de ficção sobre o assunto. Depois de organizar uma grandiosa exposição sobre Rondon em Brasília, Mario adoeceu e faleceu, aos 70 anos, em 1993, deixando para trás uma biografia tão fascinante quanto a de seu personagem preferido. (M.J.)