Francisco Carlos


(Francisco Rodrigues Filho)
Rio de Janeiro, 05.04.1928  / 19.03.2003 

 
Desde menino exteriorizava nítida tendência para a vida artística, que seus pais não aconselhavam. Aluno do colegial do Pedro II, no Rio de Janeiro, começou a matar aulas com a finalidade de participar de programas de calouros. Numa apresentação no conhecido Programa Casé, aconteceu ser descoberto pelo compositor Humberto Teixeira, que facilitou e encurtou o seu caminho. 
Suas românticas apresentações e expressiva linha interpretativa, cada vez mais abriam-lhes as portas. Daí o convide de Anselmo Domingos para assinar seu primeiro contrato profissional, na Rádio Tamoio. Em menos de seis meses, recebe proposta para transferir-se para a Rádio Globo. 

Sua estréia no disco dá-se quando, no disco Star 105, para o carnaval de 1949, grava os sambas Aumentaram Todo Mundo e Eu Não Sei, de Russo do Pandeiro, o segundo em parceria com Nestor Amaral. Meses depois, no disco 123 da Star, grava os sambas-canções Abandono, de César Formenti Neto, e Distância, neste C.D., do já famoso Fernando Lobo. 
Com seu belo timbre de voz cada vez mais aprimorado, não tarda a ser contratado pela RCA-Victor, gravando, para o carnaval de 1950, a marcha Meu Brotinho, do seus padrinhos Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Da explosão desse enorme sucesso, advém o convite para atuar na Rádio Tupi e no filme Carnaval No Fogo, da Atlântida. Rapidamente, faz-se conhecido em todo o Brasil. O jovem galã não dava conta da popularidade, num tempo em que não havia duvidosas jogadas comerciais. 
Assina, em seguida, com altivez de vencedor, contrato com a Rádio Nacional. A consagração é definitiva. Coleciona títulos e troféus, dignos de um artista de respeito internacional: O Melhor Cantor, O Cantor Mais Querido do Brasil, O Rei do Rádio. Durante alguns anos, foi o artista que mais correspondência recebeu na emissora. 
Participaria de muitos outros filmes: Garotas e Samba, Aviso Aos Navegantes, Colégio de Brotos, Esse Milhão é Meu etc... Liderou paradas de sucesso, quer no gênero romântico, quer no carnaval. Recebeu do presidente Getúlio Vargas um abraço: És o brotinho das meninas do nosso Brasil! Aliás, El Broto foi seu slogan mais conhecido. 
Grava todos os gêneros: valsa, tangos, sambas, carnaval, versões e ostenta uma discografia de inúmeros sucessos, com assinatura dos mais famosos e exigentes compositores. 

francisco carlos

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De Ary Barroso é Rio de Janeiro, samba-exaltação escrito para o filme Brazil, da Republic, de 1944. Ary, que teve sua Aquarela do Brasil gravada centenas de vezes por todo o mundo, com Rio de Janeiro recebeu indicação para o Oscar de melhor canção, honraria que nenhum compositor brasileiro havia conquistado. Personalidade ímpar, fez questão de assistir à gravação de Francisco Carlos. Nos ensaios, minutos antes da gravação, gesticulava: Meu caro jovem, falta um "s" e você sabe a importância de um "s"? Um sucesso incluído também no filme Aviso Aos Navegantes. 
De Alcyr Pires Vermelho e Lamartine Babo é a valsa Alma dos Violinos, que foi mostrada a diversos cantores na Rádio Nacional. Houve até um concurso para escolher quem a gravaria. Orlando Silva e Paulo Tapajós foram os selecionados, porém não a levaram ao disco. Então o cantor Moraes Neto, em 1942, acabou gravando-a no Odeon 12.161. Mais de dez anos depois, Humberto Teixeira, que era muito amigo de Lamartine, mostrou a valsa a Francisco Carlos. Ambos foram ao encontro de Lamartine, que ouvindo disse: Gostaria de ouvir no disco! E no dia da gravação estava no estúdio, ao lado de Humberto, para aplaudir a interpretação de Chico Carlos.  
Flor Amorosa, de Joaquim Antônio da Silva Callado Júnior, editada em 1880, com versos bem posteriores de Catulo da Paixão Cearense, teve gravações cantadas por Aristarco Dias Brandão, em 1913, e pela soprano Abigail Aléssio Parecis, em 1929. A produção do filme Esse Milhão É Meu sugeriu a Francisco Carlos que cantasse algo "da antiga". Procurou ele então seu grande amigo e diretor da Rádio Nacional Paulo Tapajós, também pesquisador musical, que lhe mostrou a polca-choro Flor Amorosa, já completamente esquecida. O sucesso tamanho que, até recentemente, foi tema de novela. 
Vestido de Noiva é uma valsa de Francisco Alves e David Nasser, uma dupla de respeito. Aproximado pela cantora Aracy de Almeida, Francisco Alves tornou-se amigo e incentivador do jovem cantor e lhe ofereceu esta valsa nos corredores da Rádio Nacional. Tudo certo, marcaram o dia da gravação. De tão entusiasmado, Francisco Alves praticamente dividiu a regência com o maestro Lindolfo Gaya. Seu entusiasmo revestia-se de sentimento oposto: a valsa tinha tido inspiração no momento triste em que recebeu a notícia do casamento de ex-namorada. 
Anjo da Noite, conta o compositor Klécius Caldas, nasceu porque seu amigo e parceiro Armando Cavalcanti ofereceu-lhe um livro exatamente com esse título, mas pelo qual não sentia nenhuma atração. Sempre que se encontravam, surgia a cobrança: E aí? Leu, gostou? Sem ter lido, qual a resposta? Até que um dia, em homenagem a Armando, escreveu um samba falando de uma mulher que passava as noites nos cabarés, acreditando que essa fosse a história do livro. Quando Armando ouviu, achou lindo, somente com um reparo: A história do livro, meu amigo, é sobre uma freira que tomava conta de doentes e todas as noites visitava-os em seus quartos no hospital. Por isso era conhecida como Anjo da Noite! 
Vencedor na arte de cantar, Francisco Carlos desde a infância exerce outra atividade, a pintura. Cursou a Escola Nacional de Belas Artes e foi aluno do renomado Oswaldo Teixeira. Não tarda também em se tornar conhecido como pintor e recebe vários prêmios. Seus quadros foram expostos nos mais importantes salões do Brasil e do exterior, principalmente Paris, onde residiu por algum tempo. 

Fonte: http://www.revivendomusicas.com.br