MISCELÂNEA



* O CANGACEIRO
, de Lima Barreto (Vera Cruz, 1953) tem dois nomes importantes de outras áreas da cultura brasileira: RACHEL DE QUEIROZ (assistente de direção e autora dos diálogos) e ADONIRAN BARBOSA (o bandido Mané Mole).


* Os diálogos de PUREZA (Cinédia, 1940, direção de Chianca de Garcia) são de JOSÉ LINS DO REGO , autor do texto do mesmo nome (de 1937) em que se baseou o filme.


* "Em crônica publicada na Gazeta de Notícias, no dia 3/11/1907, Olavo Bilac narra suas visitas a vários cinematógrafos existentes na Capital Federal. Inicia o texto fazendo alusão à viagem no tempo proporcionada pelo cinema, que também permitiria o deslocamento aos mais diferentes lugares do mundo. Afirma que ir ao cinema é o melhor passatempo para os desocupados. Por fim, alega que, embora não gostasse de cinemas, ao fim do dia apreciou o passeio que o motivou a escrever a crônica."

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* Dia 19 de junho é o DIA DO CINEMA BRASILEIRO


* CINEMA NOVO: A CANÇÃO DE CAETANO VELOSO

O filme quis dizer "Eu sou o samba"
A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes e pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todas e muitas: Deus e o diabo, vidas secas, os fuzis
Os cafajestes, o padre e a moça, a grande feira, o desafio
Outras conversas, outras conversas sobre os jeitos do Brasil
Outras conversas sobre os jeitos do Brasil
A bossa nova passou na prova
Nos salvou na dimensão da eternidade
Porém aqui embaixo "A vida mera metade de nada"
Nem morria nem enfrentava o problema
Pedia soluções e explicações
E foi por isso que as imagens do país desse cinema
Entraram nas palavras das canções
Entraram nas palavras das canções
Primeiro foram aquelas que explicavam
E a música parava pra pensar
Mas era tão bonito que parece
Que a gente nem queria reclamar
Depois foram as imagens que assombravam
E outras palavras já queriam se cantar
De ordem e desordem de loucura
De alma a meia-noite e de indústria
E a Terra entrou em transe
E no sertão de Ipanema
Em transe é, no mar de monte santo
E a luz do nosso canto e as vozes do poema
Necessitaram transformar-se tanto
Que o samba quis dizer
O samba quis dizer: eu sou cinema
O samba quis dizer: eu sou cinema
Aí o anjo nasceu, veio o bandido meterorango
Hitler terceiro mundo, sem essa aranha, fome de amor
E o filme disse: Eu quero ser poema
Ou mais: Quero ser filme e filme-filme
Acossado no limite da garganta do diabo
Voltar a Atlântida e ultrapassar o eclipse
Matar o ovo e ver a vera cruz
E o samba agora diz: Eu sou a luz
Da lira do delírio, da alforria de Xica
De toda a nudez de índia
De flor de macabéia, de asa branca
Meu nome é Stelinha é Inocência
Meu nome é Orson Antonio Vieira conselheiro de pixote
Superoutro
Quero ser velho de novo eterno, quero ser novo de novo
Quero ser Ganga bruta e clara gema
Eu sou o samba viva o cinema
Viva o cinema novo


* CAETANO VELOSO SOBRE CARMEN MIRANDA

(...) "O poeta brasileiro Oswald de Andrade, do movimento modernista de 1922, disse uma vez: "O meu país sofre de incompetência cósmica". Carmem parecia livre dessa maldição. O que salta aos olhos quando revemos hoje seus filmes é a definição dos movimentos, a articulação das mãos com os olhos, a nitidez absurda no acabamento dos gestos. Anos depois da boutade de Oswald de Andrade, Hanna Arendt se referia à disparidade entre os países pobres e os países ricos exatamenta na área da competência. Muito do que sai no Brasil torna-se notável pela magia, pelo mistério, pela alegria; pouco pela competência. Quando me perguntaram por que Carmem Miranda agradou tanto aos americanos, eu respondo: não sei. Mas fico me perguntando se a sua grande vocação para a arte-final, a sua capacidade de desenhar a dança do samba num nível exacerbado de estilização, como uma figura de desenho animado, não terá tido parte decisiva nisso. Competência é uma palavra que define bem o modo americano de valorizar as coisas. Carmem Miranda excedia nessa categoria. Gal Costa, Maria Bethânia, Margaret Meneses, são verdadeiras baianas, são grandes artistas da alegria e do mistério. Mas o estilo gestual de Carmem encontra uma identidade no estilo vocal de Elis Regina: Alta definição no ataque das notas, nitidez no fraseado, afinação de computador - competência. "
The New York Time, 1991